Os anos 90 e o novo milénio trouxeram consigo uma série
de alterações a nível estético que, até então, eram consideradas
"normais", ou que toda a gente via com bons olhos. Os homens deixaram de
exibir as suas fartas cabeleiras peitorais para passarem a assumir que
também eles têm preocupações pilosas e capilares e as mulheres puseram
de lado itens como lâminas de barbear - que utilizavam para rapar as
pernas e um pouco por todo o corpo - para passar a aderir massivamente à
cera, às depiladoras elétricas e, mais recentemente, à depilação
definitiva a laser, num ataque mortal e sem piedade ao pelo.
Hoje em dia não há mulher, adolescente ou
pré-adolescente, que não tenha o seu ritual de iniciação na esteticista
cada vez mais cedo, seja para eliminar um incipiente buço, definir
sobrancelhas ou purgar o mais pequeno pelo que se vislumbre na zona
púbica. E se é certo que ninguém gosta de ser confundido com um homem
macaco - bom, tirando talvez o Tony Ramos que até fez carreira como galã
de telenovelas - a verdade é que os pelos já tiveram a sua função de
providenciar calor ao corpo e eliminar eventuais bactérias, mais apurada
e ativa do que hoje. A chamada depilação brasileira, onde se elimina
tudo ou quase tudo na zona púbica, ganha cada vez mais adeptos,
principalmente entre as jovens e mulheres que optam por uma vulva careca
de reminiscências infantis, a qual garantem ser "mais higiénico",
"estético" e aprazível a nível sexual. A questão é, será mesmo assim?
Da floresta amazónica ao deserto do Sahara
Mesmo com as suas funções reduzidas, os pelos são
essenciais e não desapareceram do nosso corpo após milhões de anos de
aperfeiçoamento, - por mais que insistamos em exterminá-los por completo
- por algum motivo. E se nos anos 70 e 80, a moda passava por exibir
fartas e generosas zonas púbicas em formas triangulares, semelhantes a
densas florestas amazónicas, no novo milénio encontramo-nos no patamar
oposto e nunca as esteticistas tiveram tantas mãos a medir perante os
pedidos de "tire tudo" importado do outro lado do Atlântico, deixando
genitais áridos e a descoberto.
Um estudo realizado em França e publicado no British
Medical Journal (BMJ) a semana passada, mostrou que o aumento da
depilação da zona púbica - nomeadamente a extração completa do pelo -
contribui para um aumento das doenças sexualmente transmissíveis,
provocadas por lesões causadas pela depilação e que facilitam a
propagação de infeções. E se no passado as vulvas se encontravam
protegidas por um denso cobertor de "lã", que ajudava a amenizar este
fenómeno, hoje em dia adotaram formas mais polidas, lisas e suaves,
evoluíram com os tempos e modernizaram-se, mas isso não significa que o
seu aspeto infantil e careca seja o mais adequado, principalmente quando
os comportamentos sexuais não o são. Não é à toa que quando somos
crianças não possuímos pelos na zona púbica, afinal, a função para a
qual eles supostamente se encontram ali não existe, ou seja, a ausência
de relações sexuais.
Afinal, é dos carecas que elas gostam mais?
Desengane-se se pensa que o fenómeno "máquina zero"
genital tem como principais adeptas apenas as adolescentes e/ou jovens.
Num estudo realizado pela Universidade do Indiana, os investigadores
Debby Herbenick e Vanessa Schick, concluíram que 60% das mulheres
americanas entre os 18 e os 24 anos tendem a andar completamente rapadas
na zona púbica e que cerca de metade das mulheres americanas, com
idades compreendidas entre os 25 e os 29 anos, partilham dos mesmos
hábitos. E quando se fala em genital, fala-se também em glúteos, em
períneo e na região anal. Não há pelo que resista quando a tendência é
ainda fomentada pela preferência de roupa interior e biquínis cada vez
mais reduzidos, filmes e séries que incitam à prática, ou citações de
figuras públicas que promovem este tipo de comportamento. (Kim
Kardashian, celebridade norte-americana, assumiu que, "O único sítio do corpo onde devemos de ter pelos é na cabeça.")
Sobre Portugal e os hábitos dos portugueses no que diz
respeito à depilação genital e anal - em ambos os sexos - não há dados,
(eu, pelo menos, não os possuo), mas a moda é cada vez mais pública e
menos tabu. E se muitos ainda torcem o nariz à tendência, mostrando-se
os Velhos do Restelo da nudez capilar nos genitais, outros há que
garantem que é dos carecas que gostam cada vez mais, pois ao praticá-la,
conseguem promover o tamanho do pénis e lábios vaginais, que desta
forma parecem maiores, ou por eliminarem evidentes sinais de
envelhecimento - como os indesejáveis pelos/cabelos brancos.
Afinal, tudo depende do ponto de vista.
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