




















Roupas em camadas de sobreposições questionam a estética combinadinha. As capas, de texturas múltiplas, somam-se aos calçados descolados sobre meias vistosas e assinam um convite para uma análise dos pés à cabeça. A produção é complementada com acessórios nada discretos, unhas desenhadas e maquiagem irretocável. Os cabelos coloridos compõem um detalhe à parte: os fios em azul, rosa ou verde assumem o papel de molduras dos rostos quase infantis. A moda jovem e urbana do Japão sublima uma ruptura com as tradições milenares, congrega tribos extravagantes e comportamentos sintonizados com as referências artísticas e culturais do mundo globalizado. Na recente semana de moda de Tokyo, realizada no período de 18 a 25 de março, as ruas da capital japonesa foram tomadas pelos fashionistas nipônicos. Donos de uma indumentária singular eles acabaram protagonistas das páginas virtuais do street style fazendo arregalar os olhos do Ocidente.
A livre expressão no vestir pontua a moda típica de exibição nos bairros Harajuku e Shibuya, onde uma aparição pode custar horas diante do espelho. Há nesta atmosfera pistas subversivas do vanguardismo japonês que passou à história da moda no início da década de 1980. Sobretudo, pelo impacto. O mesmo causado pelos estilistas Yohji Yamamoto e Rei kawakubo quando suas criações surpreenderam a passarela de Paris, em 1982. As coleções apresentadas estabeleceram uma contraposição à vigência da silhueta armada pelas ombreiras. O desconstrucionismo, as formas amplas e a falta de contexto com o mundo ocidentalizado alimentaram as críticas dos principais veículos de moda e desbravaram um território de padrões pré-estabelecidos. Em um salto de três décadas que separam a inusitada passarela parisiense dos dias atuais, criadores anônimos e despretensiosos causam vertigem nas ruas. Tudo tão ousado e real que as máscaras hospitalares usadas em massa - como prevenção aos resfriados e nuvens poluentes - parecem parte da indumentária.


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