Nas próximas conversações russo-nipônicas em Moscou, o primeiro-ministro do Japão já não irá representar um país que nos acostumámos a considerar como "parceiro menor" dos Estados Unidos. Insistentemente, mas com cuidado, Tóquio está tentando encontrar seu próprio caminho na política mundial.
O chefe do governo japonês chega
em visita oficial à Rússia em 28 de abril, para, nas suas palavras,
atribuir um novo impulso às relações bilaterais. É bastante interessante
o pano de fundo da situação política externa atualmente existente em
torno do Japão. Por um lado, o país dispõe da terceira mais potente
economia no mundo e faz parte do número de líderes tecnológicos
incontestáveis no planeta. Ao mesmo tempo, o reforço da influência da
China e o agravamento da crise na Península da Coreia obrigam o Japão a
esperar o apoio político dos Estados Unidos. Mas será que Tóquio quer na
realidade manter seu “status quo”?
Esta é uma
pergunta que preocupa cada vez mais os Estados Unidos, que, refletindo
em termos de uma lógica comum, tiram a conclusão tranquilizante de que o
Japão irá continuar a política antiga, enquanto a capacidade dos EUA de
conter o crescimento das ameaças externas ao Japão não enfraquecer,
destaca a influente revista norte-americana Foreign Affairs.
Entretanto,
torna-se cada vez mais evidente que o Japão duvida há muito da América,
considera Alexei Plotnikov, professor e membro do Conselho parlamentar
de Peritos para a Segurança. Tóquio entende que Washington não irá, no
interesse do Japão, intervir ativamente, por exemplo, no seu conflito
territorial com a China por causa das ilhas conhecidas pelos chineses
como Diaoyu e Senkaku pelos japoneses. Por outro lado, praticamente cada
japonês sabe que, em tempos, o seu país foi um império e agora está de
fato ocupado pelos Estados Unidos. O complexo de derrota na Segunda
Guerra Mundial entrou profundamente na consciência dos japoneses nos
últimos cinquenta anos, mas não tanto para que eles se esqueçam do
passado. Hoje, o Japão dá passos bastante ativos para se apresentar,
pelo menos externamente, como um país soberano, destacou Alexei
Plotnikov em entrevista à Voz da Rússia:
“Tenho em
vista, em primeiro lugar, a sua dependência dos Estados Unidos e das
bases americanas que se encontram no território japonês. O Japão está
dando passos tranquilos, lentos, cuidadosos e lógicos para se livrar
desta dependência. Trata-se, em particular, de transformar as suas
forças de autodefesa em forças armadas normais. Não há muito, foi criado
um departamento militar e foram restabelecidas as patentes militares
que, após a Segunda Guerra Mundial, haviam sido substituídas por nomes
pomposos como “oficial sênior de tropas terrestres de primeira classe”,
que corresponde a coronel etc.”
Em 2007, o líder dos
liberais-democratas japoneses, Shinzo Abe, encabeçou pela primeira vez o
governo do Japão e atribuiu o estatuto de ministério ao Departamento de
Defesa Nacional. Nos discursos do primeiro-ministro, foram expressas
palavras sobre o restabelecimento do espírito guerreiro da nação.
"Chegou a altura de tirar as forças armadas da sonolência do regime de
pós-guerra", disse o governante. Destaque-se que as forças de autodefesa
japonesas foram "despertas" ainda antes: elas participaram da operação
“Tempestade no Deserto”.
As reflexões sobre o próprio
caminho do Japão e seu lugar no mundo não surgiram hoje, com a chegada
do novo gabinete de Shinzo Abe, diz Viktor Pavlyatenko, colaborador
científico do Instituto do Extremo Oriente da Academia de Ciências da
Rússia. As ideias de regressar a uma política independente têm sido
motivo de debate entre peritos no decorrer de toda a segunda metade do
século XX. Hoje, estas ideias são confirmadas pelas dúvidas do
“establishment” político quanto à firmeza dos Estados Unidos de defender
o Japão em caso de uma situação crítica:
“Estas
dúvidas levam a perguntar sobre o que devemos fazer. Naturalmente, a
resposta é evidente: devemos ser fortes. Não é por acaso que em 2010 o
anterior gabinete, de democratas, definiu novos vetores de
desenvolvimento da defesa, dando destaque a uma defesa dinâmica, que
subentende conter um inimigo potencial de passos impensados em relação
ao Japão. Tal defesa dinâmica exige, sem dúvida, um rearmamento e novos
tipos de armas, despesas adicionais etc.”
A atual
Constituição do país, aprovada após a Segunda Guerra Mundial sob
controle dos Estados Unidos, limita consideravelmente o Japão na esfera
militar. No fundo, o Japão não pode dispor de forças armadas, capazes de
efetuar quaisquer ações ofensivas. Em conformidade com o Tratado de
Segurança norte-americano-japonês de 1951, são os Estados Unidos que se
comprometem a defender o Japão. Mas, por força das causas referidas, a
atual situação já não satisfaz os japoneses.
Embora
eles não façam ostentação da modernização de suas forças de autodefesa,
não tentam ao mesmo tempo ocultá-lo. Na opinião de peritos, o governo de
Shinzo Abe, se estiver no poder mais tempo que no anterior mandato, irá
rever a Constituição. Primeiro, as forças de autodefesa serão
transformadas em forças armadas, posteriormente o país começará a
exportar armamentos e a aumentar independentemente seu próprio potencial
defensivo.
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