Ao contrário do que acontece na América do Sul e em algumas partes da Europa, os torcedores uniformizados japoneses quase nunca desrespeitam o adversário - chegam a vibrar com os lances do time rival, que é recebido com homenagens pela cidade onde acontece a partida. Na terra da civilidade e do respeito, futebol é apenas lazer. VEJA convidou um jornalista japonês a contar como funcionam as torcidas no país
Torcedores no futebol japonês - Keita Yasukawa
Depois do rebaixamento de uma equipe, o capitão pegou o
microfone e pediu desculpas aos fãs pelo péssimo resultado,
envergonhando-se pela campanha. Também prometeu voltar à divisão
principal na próxima temporada. Os torcedores se acalmaram e saíram em
paz
Nos estádios sempre há famílias inteiras. Vão os pais, mães, avós, netos, todos. E sempre muitas mulheres. Estádio no Japão jamais foi sinal de confusão ou local perigoso, é basicamente um lugar de lazer. Claro que para os padrões europeus ou sul-americanos pode parecer estranho, mas é comum, por exemplo, todos ficarem quietos durante um ataque e assim que a jogada for complementada, se foi bonita, não importa a torcida, todos batem palmas.
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Claro que há pessoas estúpidas que eventualmente ofendem jogadores, levantam bandeiras ofensivas contra outros torcedores e isso pode até causar a perda de controle de alguém e ocorrer uma briga. São fatos muito raros e os clubes estão atentos e impedem que este tipo de torcedor vá ao estádio por um período, se for preciso recorrendo à polícia. Os clubes não participam da formação de qualquer tipo de torcida. O máximo que fazem são algumas promoções de marketing, sorteios de camisetas ou ingressos, e basta: não há mais nenhum envolvimento.
Os japoneses têm um jeito muito próprio de encarar o futebol. No fim da temporada de 2012, na última partida da temporada, o Vissel Kobe recebeu o Sanfrecce Hiroshima e perdeu por 1 a 0, resultado que o jogou à segunda divisão da J-League, o torneio nacional. Centenas de torcedores permaneceram horas no estádio, meio indignados com o resultado. Diante dessa reação, o presidente do clube e o capitão do time pegaram um microfone para agradecer a torcida pelo apoio durante a temporada e pedir desculpas pelo desempenho ruim. Mas ao dar a volta pelo campo despedindo-se, os jogadores pararam na frente de um grupo de torcedores mais exaltados. Novamente o capitão pegou o microfone e pediu desculpas pelo péssimo resultado, envergonhando-se pela campanha. Também prometeu voltar à divisão principal na próxima temporada. Os torcedores sentiram-se satisfeitos, se acalmaram e saíram em paz.
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Talvez copiado da solenidades das Olimpíadas, em vários jogos os clubes mandantes dos jogos convidam alguma autoridade - prefeito, por exemplo -, para dar as “boas-vindas” a todos os torcedores e, em especial, à torcida adversária. É o que chamamos de "espírito de welcome". Os clubes contratam DJs que anunciam as escalações, narram as principais jogadas e ainda animam as torcidas, num esquema parecido com o dos jogos de basquete da NBA. É uma forma também de inibir qualquer violência e invocar respeito aos adversários, ensinamento familiar aos japoneses.
Yoichiro Seki, de 45 anos, é japonês, trabalha para o diário Tokyo Chunichi Sports e já cobriu a Olimpíada de Atlanta, a Copa América de 1999, as Copas do Mundo da França e da Coreia do Sul e Japão e a J-League nas últimas duas décadas.
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