Marketing e Gestão Ambiental têm sido atividades bastante antagônicas nas últimas décadas. Enquanto a primeira fomenta o consumo em busca de crescimento econômico baseado na indústria e no comercio, a segunda agoniza. Sua devida importância aflora somente após catástrofes naturais ou previsões pessimistas ganhando visibilidade na mídia.
A combinação entre
explosão demográfica e aumento individual do consumo tem gerado em quase
todos os setores, índices recordes de crescimento econômico a custas do
descontrole na gestão de recursos naturais e impactos ambientais.
O Marketing
(Publicidade e Propaganda) ainda hoje é uma das áreas mais disputadas
por estudantes e profissionais, visto como sinônimo de sucesso, inovação
e criatividade. Por outro lado, também se tornou uma das principais
áreas responsáveis pela deturpação dos valores e criação do
comportamento de consumo insustentável enraizado na sociedade atual.
Psicologia e
Ciência da Comunicação são disciplinas aplicadas para que o Marketing
crie a associação entre aquisição de bens materiais com realização
pessoal e felicidade, entre outras distorções. Entre suas estratégias
para aumento de consumo estão a Obsolescência Programada (produtos
feitos para durar pouco) e Obsolescência Percebida (produtos para serem
trocados rapidamente, mesmo que sem necessidade, devido à percepção de
que não são mais necessários).
O resultado é uma
confusão na mentalidade das pessoas sobre necessidades básicas com
desejo de compra; o que ajudou a elevar os níveis de consumo a padrões
sem precedentes na história da humanidade. As pessoas vivem e trabalham
para consumir e com base nisso, são julgadas pelos bens que possuem
muito mais do que pela personalidade que carregam. Empresas e marcas
globais se tornaram tão poderosas quanto os governos das nações mais
ricas do planeta.
Mas a boa (ou má)
notícia é que este sistema econômico baseado na produção industrial e no
consumo deverá se extinguir nas próximas décadas. Não é mais uma
questão de escolha, mas fato comprovado, por bem ou por mal. E a
justificativa é tão clara quanto a lei da gravidade: não existem
condições de crescimento econômico infinito em um meio físico finito.
Recentemente
chegamos à marca de sete bilhões de habitantes, onde 20% da população
mundial são responsáveis pelo consumo de 70% dos recursos naturais
existentes. Desigualdade socialmente brutal, mas que impede níveis ainda
mais alarmantes de emissão per capta de poluentes relacionados a este
consumo. Imaginemos viver em um mundo mais equilibrado socialmente (o
buscamos continuamente), onde os outros 70% de habitantes tenham o mesmo
potencial de consumo dos atuais 20%.
Em um mundo
socialmente mais igualitário, mas com crescimento populacional
exponencial e com a situação do planeta atingindo limites de
impossibilidade ambiental de reversão, não há mais sustentação de
economias baseadas em consumo. Entende-se ainda que tomar medidas agora
para iniciar as profundas reformas na maneira em que vivemos será
infinitamente mais barato do que postergar o problema para nossos filhos
ou netos.
Com uma visão a
cada dia mais amadurecida sobre este cenário, entidades globais como a
ONU, por exemplo, vêm desenhando junto aos governos novas maneiras de
desenvolvimento sustentável, fomentando ainda as mudanças necessárias
hoje para que o planeta continue vivendo em harmonia daqui há 20, 30 ou
40 anos.
Indicadores como
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) começam a ser calculados junto a
novos levantamentos definindo assim diretrizes do que será o futuro da
humanidade, muito além dos tradicionais indicadores econômicos.
Expressões comoEcoeficiência, BioPotencial, Produção Mais Limpa, Ecodesign, Pegada de Carbono, Economia Estacionária, NeoCapitalismo entre
outras, passam a fazer parte do dia-a-dia dos governos, das negociações
entre as nações e do cenário futuro das economias. Um cenário que
certamente não dará mais o mesmo espaço ao tradicional Marketing e
Publicidade de Consumo.
E o profissional de
Marketing? Qual será seu papel diante desse novo cenário, novos valores
e paradigmas? Cabe a nós, atuantes destes setores tão afetados e tão
responsáveis pela atual situação, abrir os olhos para algo muito além da
nossa formação profissional. É preciso rever conceitos e entender
melhor a gama de ciências que permeiam a gestão do meio ambiente.
Campanhas educacionais como forma de compensações conceituais,
ética nos negócios, e uma percepção mais comprometida com a
sustentabilidade (o que inclui também comunidades locais, fornecedores e
consumidores finais) são algumas lacunas que deverão ser ocupadas com
essa preocupação. E onde profissionais de Marketing deverão atuar com
mais energia e precisão. Isto porque as empresas, para continuarem
existindo neste novo cenário, deverão atuar muito além da entrega de
seus produtos, mas assumir o compromisso de serem parceiras do governo
e, portanto, corresponsáveis pela harmonia entre seres humanos, meio
ambiente e desenvolvimento sustentável.
Assim como os
governos, nossa profissão também está em uma encruzilhada. Somente um
caminho nos levará a manutenção das profissões de publicitário ou
profissional de marketing. Cabe a você decidir e preparar-se para as
melhores escolhas.
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