É o segundo fármaco criado de raiz em Portugal pela Bial. O
Opicapone ainda não está pronto, mas já conquistou como precioso aliado o
Japão, o terceiro maior mercado farmacêutico do mundo.
O segundo produto de investigação da empresa
farmacêutica portuguesa Bial deverá terminar a fase III de ensaios
clínicos – a última – no início de 2014, de forma a cumprir a previsão
de entrada no mercado para comercialização em 2015. A molécula, com o
nome de código BIA 9-1067, foi patenteada em 2005. Actualmente, o
fármaco tem o nome de Opicapone e, segundo a Bial, deverá garantir uma
resposta mais eficaz no tratamento como adjuvante para a doença de
Parkinson. Ainda antes de concluir o desenvolvimento do produto, a Bial
já conquistou o interesse de uma farmacêutica do Japão, que vai agora
começar a testar o fármaco na população japonesa e, no futuro, ficará
responsável pela comercialização.
Não é a primeira vez que a
Bial desenvolve um novo medicamento, mas é a primeira vez que conquista
uma porta de entrada no mercado farmacêutico do Japão, o terceiro maior a
nível mundial (depois dos Estados Unidos e da Europa). O primeiro
fármaco desenvolvido pela empresa portuguesa – o acetato de
eslicarbazepina, com o nome comercial Zebinix, para o tratamento da
epilepsia – está no mercado desde finais de 2009, mas não chegou tão
longe.
O Opicapone está a ser desenvolvido como terapêutica
adjuvante da levodopa, fármaco de maior eficácia e mais usado para
tratar a doença de Parkinson. O medicamento da Bial terá de enfrentar
concorrência – existem outros adjuvantes no mercado –, mas a empresa
acredita que esta solução terapêutica tem vantagens: será capaz de
prolongar por mais tempo os efeitos da levodopa e implicará apenas uma
toma única diária (ao contrário dos outros produtos que exigem mais do
que uma dose diária). Estes adjuvantes são usados nos doentes de
Parkinson que, com a evolução da doença, sofrem do fenómeno de wearing off, que consiste na diminuição da duração do efeito da levodopa.A fase III de ensaio clínico deverá chegar ao fim do início do 2014, seguindo-se o registo junto das autoridades regulamentares e a posterior aprovação para introdução no mercado (no caso do Zebinix, este processo burocrático final demorou cerca de um ano). Porém, esta quinta-feira, a Bial divulgou a assinatura de um contrato de licenciamento exclusivo com a empresa japonesa Ono Pharmaceutical para o desenvolvimento e comercialização no Japão deste novo tratamento. A empresa nipónica prevê iniciar brevemente os ensaios clínicos com o Opicapone em japoneses.
Sem adiantar mais dados sobre o potencial financeiro deste acordo, a Bial sublinha apenas que o número estimado de doentes de Parkinson no Japão é de cerca de 141 mil (dados de 2011) e o mercado da doença nesse país equivale a cerca de 600 milhões de euros, representando 22% do mercado mundial.
“É um momento histórico e significativo para Bial e de grande satisfação para toda a nossa equipa. Fomos capazes de criar e desenvolver um segundo medicamento de investigação própria, confirmando as nossas capacidades científicas e técnicas e criando confiança na sustentabilidade do nosso projecto de I&D”, avalia António Portela, presidente executivo da Bial no comunicado da empresa. O responsável adianta ainda que estão em curso as negociações para encontrar “os parceiros ideais para os EUA e a Europa” neste negócio.
A Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central caracterizada por lentidão dos movimentos, tremores, rigidez muscular e alterações posturais. As manifestações clínicas iniciam-se habitualmente a partir dos 50 anos (a idade média de diagnóstico da doença situa-se por volta dos 60 anos), aumentando a incidência com a idade. A prevalência é estimada em 300 por 100.000 habitantes, aumentando de 1/100 acima dos 55-60 anos. Estima-se que existam seis milhões de pessoas com a doença de Parkinson a nível mundial. Em Portugal, as estimativas apontam para a existência de 20 mil doentes.
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