Pessoas com transtornos psicológicos têm apresentado melhora com terapia que estimula o convívio com bichos, a chamada coterapia
Ana e a tartaruga Zoe: amor incondicional dos dois lados (Foto: Moisés Schini)
A psiquiatra Fátima Victório foi uma menina bastante doente. Com seis anos de idade, em uma de suas inúmeras visitas ao médico, foi-lhe recomendado um bicho de estimação. Desde então, ela percebeu o quanto a troca afetiva com os animais influenciaria sua saúde física e mental. Levou a experiência para dentro do consultório e hoje trabalha a chamada coterapia em pacientes depressivos.
Geralmente, ela faz a coterapia com os pacientes que já possuem algum animal de estimação. “Não vendo e nem mando comprar animais. Mas se o paciente já possui um, faço com ele perceba que o bicho é a ponte afetiva para se reconectar com a vida”, explica. E é a partir dessa percepção que a conexão se estabelece.
ORIGEM DO TERMO
O termo coterapeuta, assim como a terapia assistida por animais, teve origem em meados da década de 50, com a psiquiatra Nise da Silveira. De acordo com médica, a doutora Nise sempre enfatizou a importância do contato afetivo e da expressão criativa para a recuperação das pessoas.
A psiquiatra percebeu a possibilidade de tratamento ao observar como um paciente melhorou quando lhe foi dada responsabilidade de cuidar de uma cachorrinha que fora abandonada no hospital.
“Eles só ajudam se realmente a troca for efetiva”, complementa. E, dependendo do diagnóstico, determinado animal funciona melhor que outro. Em casos como a esquizofrenia, por exemplo, o gato pode auxiliar de uma maneira diferente do cão: ele não é carinhoso como o cachorro, mas é atencioso e respeita o silêncio do dono apenas fazendo companhia.
“Independente do que se possa sentir por eles, os animais sempre nos dão afeto de forma incondicional”, lembra. E é essa troca de afetividade que ela trabalha no consultório, em particular com os pacientes depressivos. “Os relatos são gratificantes”, afirma.
A médica explica que, do ponto de vista junguiano, no nosso inconsciente também reside a nossa saúde. E é por isso que ela também recomenda, paralelamente ao tratamento medicamentoso e à coterapia, uma dieta saudável, assim como a prática de exercícios físicos. “Eles estimulam a fabricação dos chamados hormônios da felicidade”, assegura.
Ao longo do tempo, a médica vem observando que uma outra prática, além da coterapia, também tem ajudado no tratamento: a manifestação de algum tipo de religiosidade por parte do paciente ou uma filosofia espiritual. “Tudo o que trabalha a parte sensorial ajuda na recuperação. O ser humano não é só razão”, lembra.
QUEM GANHA É A PARTE EMOCIONAL
Para o médico veterinário e professor da Uniara Márcio Caruso, o aspecto emocional é o mais importante entre os benefícios de possuir um animal de estimação. “Na condição de superior, o humano vê nos demais animais um ser indefeso, que precisa de proteção. É um instinto animal que, na maioria das vezes, os homens ainda carregam dentro de si. Isso é benéfico para o desenvolvimento do caráter humano. É sempre bom lembrar que a amizade e confiança de um animal não se compra, mas se conquista”, completa. Ele afirma que o convívio dos pets com seus donos é sempre muito bom à saúde. “Em transtornos neuromusculares, as atividades com animais têm se mostrado extremamente benéficas.
TARTARUGA E CACHORRA AJUDAM DONAS NA RECUPERAÇÃO
A
vira-lata chegou na vida da dona de casa quando nem com os filhos ela
conversava mais. Tebas ajudou em sua recuperação (Foto: Kris Tavares)
A cachorra chegou ainda filhote e aos poucos foi conquistando a dona. “Não tinha vontade de levantar da cama para cuidar nem dos meus filhos”, relata. Como a cadela exigia atenção, ela começou primeiro a cuidar dela. “Voltei a falar, primeiro com a cachorra e depois com os meus filhos”, lembra.
Com a massoterapeuta Ana Lúcia Ferreira, de 46 anos, não foi diferente. Depois de passar por uma separação, Ana entrou em depressão e no meio da crise ganhou Zoe, uma tartaruga vítima de maus-tratos. As duas assistem à televisão juntas e, recentemente, ganharam a companhia de Lucy Maria, uma pinscher. “Elas são meigas, sapecas e sagradas para mim”, observa Ana.
Tanto Neide quanto Ana afirmam que a chegada dos animais de estimação foi fundamental no tratamento e na recuperação da depressão. As duas ainda tomam medicamento, mas hoje encaram a doença de uma forma mais leve, graças aos animais.
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